Não “Temer” a faxina!
Confira abaixo o editorial “Não “Temer” a faxina!”
Desde os tempos da descoberta do Brasil que o “jeitinho brasileiro” sempre fez parte da realidade política e das relações de nosso povo.
Recentemente foi preso mais um ex-presidente, Michel Temer, aquele que era vice e depois virou definitivo após o processo impeachment de sua antecessora. Movimento este realizado inclusive sob o seu consentimento.
O MDB, Movimento Democrático Brasileiro, tão forte e conhecido na época das “Diretas Já”, na década de 80, se transformava em um ícone da nova política.
Ulysses Guimarães (morto em um acidente de helicóptero em 1992), Tancredo Neves (eleito presidente e morto antes de assumir o cargo em 1989) e Franco Montoro eram os principais figurões, líderes e atuantes em um momento borbulhante da política brasileira.
O MDB, que depois se transformou no Partido Democrático Brasileiro, e que recentemente voltou a se chamar MDB, sempre ocupou o patamar de maior partido brasileiro, com forte representação em todos os estados.
Conhecido por ter muitos líderes prefeitos em grandes e pequenas cidades Brasil afora, o MDB sempre esteve envolvido nas principais negociações na esfera política. Todas sempre passaram por seu crivo e de seus caciques.
José Sarney, o vice de Tancredo, que assumiu a presidência em seu lugar, sempre esteve diante das grandes negociações de coligações e acordos políticos. Isso também mesmo após seu período como presidente e posteriormente como líder no senado.
Com investigações de corrupção até dizer chega, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá e tantos outros caciques, ficaram bem conhecidos e expostos pela opinião pública por envolvimento em questões ligadas à ética e esquemas de corrupção nas gestões do PT e outros partidos.
Todavia, não é de hoje que operadores do PMDB foram responsáveis por muitos dos trabalhos sujos nas coligações. Entenda trabalho sujo como negociata, comissões, caixa 2 etc. Seja em gestões do PSDB, PT, entre tantas outras siglas, o PMDB sempre foi governo, sempre foi situação.
Temos agora um ex-vice-presidente (do País e deste partido) preso por corrupção e acusação de operar esquemas nos bastidores.
Michel Temer, vice de Dilma, foi presidente da Câmara dos Deputados durante anos, teve fortes ligações com Eduardo Cunha (preso desde 2016), que também foi uma das figuras mais contraditórias e questionáveis no ponto de vista moral entre bastidores do poder.
O país vive uma situação pouco orgulhosa pelo fato de tantos figurões da política estarem atrás das grades. Ex-presidentes, ex-governadores, ex-ministros, a lista é grande.
Lula, Michel Temer, Eduardo Cunha, Sergio Cabral, José Dirceu, Paulo Maluf (hoje solto), Beto Richa e uma infinidade de nomes que não acaba mais.
Porém, de outro lado, dá uma satisfação danada ver que temos um poder de inteligência, investigação e justiça mais férteis que no passado, onde pouco ou quase nunca víamos cenas como essas que hoje se tornaram rotina.
Para o bem da nação, que a limpeza da lava-jato continue e que venham os próximos.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.
Perdemos!
Confira abaixo o editorial “Perdemos!”
Em um curto espaço de tempo vivenciamos as tragédias mais dolorosas possíveis e inimagináveis.
Ao decorrer dos dias de 2019, que se iniciaram há pouco, vimos sonhos de garotos em se tornar atletas reconhecidos serem levados ao vento após o incêndio nas dependências do Clube de Regatas Flamengo.
Também temos assistido, de maneira consternadora, os sonhos de uma vida inteira de mineiros, como a aquisição de uma casa própria ou mesmo a constituição de uma família, indo literalmente pela lama com o crime ambiental cometido pela Vale.
Pessoas e animais indefesos. Todas vítimas da desenfreada falta de responsabilidade na gestão de uma mineradora, primeiro em Mariana e depois Brumadinho.
Não diferente e de acordo com tudo que tem se apresentado, as fortes chuvas têm castigado Rio de Janeiro e São Paulo. Uma prova viva que por mais que nos esforcemos para jogar lixo no lixo e preservar os recursos naturais – que na maioria das vezes não acontece –, nada pode ser mais forte que as decisões da natureza, principalmente quando ela resolve nos devolver todos os maus tratos que propiciamos a mesma.
Triste ver rios trasbordando – como o Aricanduva e Tietê. Triste ver pessoas perdendo seus bens, seus valores, suas vidas e seu amores.
Ainda no campo da indignação, um vídeo mostrando cenas de agressão por parte de um homem com uma mulher em seu primeiro encontro, com explícita selvageria, também ganhou espaço considerável nas mídias.
Como estamos doentes!
No comportamento com o próximo, no cumprimento das leis, na ética profissional, no respeito à vida e ao próximo, enfim.
Acredito, de fato, que o que ainda indigna a nós, cidadãos, é o fato não perceber uma vontade sincera das autoridades em nos dar respostas.
Ecoar e dar a devida visibilidade ao grito de uma mulher que pede justiça – porque perdeu seu marido ou filhos – deveria ser obrigação nossa, obrigação dos meios de comunicação e obrigação moral da classe política.
Ainda na questão de se dar amplitude aos fatos, houve a perda – dolorosa e irreparável – de um dos poucos, senão o único, jornalista que era capaz de nos envolver com sua articulação eloquente em transmitir notícias com críticas isentas e organizadas.
Como faz falta um profissional como Ricardo Boechat nas manhãs brasileiras de rádio.
Só perdemos!
Pouco nos indignamos com fatos que não deveríamos aceitar nem nos mais divagantes pesadelos.
Que Deus possa olhar por nós e que tudo isso nos sirva, minimamente, de evolução para o desenvolvimento de um país mais organizado e respeitoso.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.