Bolsonaro elegeu Lula
Em 2018 a vontade das urnas brasileiras elegeu Bolsonaro para presidente da república.
Ele jamais havia sido eleito para um cargo do executivo em sua história.
Jair Bolsonaro foi vereador e deputado federal. Trajetória, inclusive, parecida com a de Lula, que antes de se tornar presidente em 2002, tinha apenas uma única passagem na câmara federal e também não havia ocupado qualquer cargo no poder executivo.
Bolsonaro, com sua força nas redes sociais e discursos antagônicos somados às frustrações promovidas pelo PT no período de 2002 a 2016, recebeu – no colo – a eleição de 2018.
O prenúncio da polarização entre esquerda e direita já dava suas caras na eleição de 2014 com o embate de Dilma Rousseff e Aécio Neves.
O calor da mídia, o espetáculo promovido pela lava-jato e a prisão de Lula – ao longo dos anos – ajudaram Bolsonaro a ter a liderança de ponta a ponta daquela eleição.
Petrolão, mensalão, loteamento de cargos ao centrão e aparelhamento de estatais foram um dos motivos do descrédito do PT em suas gestões.
O último governo do PT, por exemplo, foi desastroso. Terminou com o impeachment de Dilma Rousseff. Não por corrupção, mas por pura inabilidade política.
A frustração com o PT no país abriu espaço para o crescimento de uma corrente oposta: o bolsonarismo.
Com personalidade forte, Bolsonaro foi eleito bem ao seu estilo: ríspido, estúpido e com muitos discursos altamente conservadores.
Porém, em pouco tempo, o governo de Jair Bolsonaro, de direita, se mostrava parecido com os últimos governos de esquerda.
Logo a gestão atual se envolveu em escândalos, se alinhou ao centrão, loteou cargos para a base aliada e, rapidamente, estava nos braços de símbolos da corrupção brasileira como Valdemar da Costa Neto, Roberto Jefferson, Fernando Collor de Mello e Eduardo Cunha – curiosamente parceiros do PT e de Lula nos anos anteriores.
Mas algo foi vital na derrocada do atual governo.
Sem dúvidas o tendão de aquiles foi a covid-19.
Além de diminuir e negar a pandemia, o presidente receitou – como se médico fosse – remédio sem eficácia, atrasou propositalmente a aquisição de vacinas e deixou à frente da pasta da saúde alguém sem qualquer conhecimento técnico.
Sua rejeição está totalmente ligada à falta de empatia pelos mortos e pelo execrável sadismo de imitar pessoas com falta de ar.
Qualquer povo deseja ouvir de um chefe de estado palavras de conforto, ainda mais em uma situação atípica sem precedentes.
Bolsonaro fez totalmente o contrário do que é recomendado por qualquer assessor político e analista de comunicação – por mais “meia boca” que fosse.
Resultado: se tornou o primeiro presidente a não conseguir uma reeleição após a redemocratização.
Não que uma reeleição seja algo bom. Muito pelo contrário.
Democracia saudável é aquela que alterna poder.
Mas o recado foi dado nas urnas, mais uma vez.
Erros graves na condução política entregam – de bandeja – uma eleição ao adversário, por mais rejeitado que ele também seja.
Polos EADs são as novas paleterias
Nos últimos 10 anos o número de ingressantes na modalidade EAD quadriplicou e, desde fevereiro de 2022, são mais alunos no modelo à distância em relação aos do presencial.
Essa marca estava prevista para ser atingida apenas em 2025, mas com a pandemia, o processo foi acelerado.
Temos visto uma franca expansão das unidades educacionais transformando – o que deveríamos chamar de escolas de ensino superior – em polos comerciais de educação à distância.
São muitas marcas de instituições buscando este posicionamento: Anhembi Morumbi, Cruzeiro do Sul, FMU, Estácio, entre outras.
Algumas escolas de menor porte no segmento também disputam esse share digital.
Acontece que muitos desses polos, além de não ter o preparo e infraestrutura para receber público, não contam com a presença de coordenadores pedagógicos ou professores – a tal equipe técnica – na maior parte do tempo.
Isso sem falar que o espaço de uma universidade deve oferecer ao estudante a convivência com outros colegas, interação com demais cursos, desenvolvimento político e civil, identidade de grupo, amadurecimento das relações humanas, entre outras situações que são impossíveis de acontecer – com a profundidade necessária – através de uma tela de computador.
É triste saber que estamos chamando de escola um lugar sem os itens imprescindíveis acima.
Destacadas marcas líderes do cenário educacional também adotaram um modelo híbrido (parte presencial e parte EAD). Uma forma de encaixar um percentual das aulas no formato online, reduzir fluxo de alunos, otimizar custos e escalar o potencial de vendas.
Ninguém gosta de comentar, mas os percentuais de audiência das aulas online são desastrosos.
Os alunos em boa parte das vezes não estudam e fazem avaliações copiando as respostas em uma aba paralela no Google – isso quando o fazem.
Nas especializações EAD o horizonte já é diferente. Essas sim contam com números de melhor performance – até mesmo por conta da idade e a maturidade do indivíduo matriculado.
De qualquer forma, a verdade é que esse modelo atual não consegue entregar educação de qualidade.
E quanto aos docentes neste novo cenário?
Ora, a maioria deles são alocados em condições de remuneração cada vez mais ofensivas, vendendo – numa única vez– o direito autoral de seus conteúdos para as aulas digitais que podem ser transmitidas para milhares de pessoas.
Quem lucra de verdade são as instituições é claro – que atualmente estão mais preocupadas em abrir capital na bolsa do que entregar um ensino responsável.
O Brasil sempre viveu a febre de empresas “modinha” em nosso modelo econômico volátil.
Já foi a época de ter em cada esquina hamburguerias, temakerias ou mesmo as famosas paleterias mexicanas.
Parece que chegou a vez das “EADerias”!
Devido a falta de estrutura e qualidade nos ambientes digitais e presenciais, fica muito difícil acreditar que o final desta saga será de bonança.
O mais provável é o natural definhamento que já aconteceu com outros segmentos, inclusive.
Historicamente só resistiram a esse tipo de explosão comercial empresas de trabalho sério, onde a qualidade ficou à frente da lucratividade desenfreada.
Nossa educação, que nunca foi das melhores, infelizmente deve assistir – e de camarote – um dos tempos mais tristes na formação de profissionais da história.
* Antonio Gelfusa Junior é publicitário, especialista em educação de ensino superior e professor do SEBRAE-SP.