Nos últimos meses, as eleições municipais têm apresentado um comportamento mais violento do que as anteriores, em especial em São Paulo, com a candidatura inédita de um coach e influencer chamado Pablo Marçal.
Nos últimos dias, inclusive, após as provocações de Pablo Marçal, do PRTB, o apresentador e também candidato José Luiz Datena, do PSDB, atirou um banco/cadeira no coach. Isso tudo ao vivo, transmitido pela TV Cultura.
Obviamente, por vivermos em uma sociedade do espetáculo – que é altamente influenciada por entretenimento, reality shows e redes sociais –, o fato virou meme. O agressor e agredido, Pablo Marçal, transformou sua ida estratégica ao hospital em cenas de dar inveja a qualquer série médica hollywoodiana.
A campanha destes tipos de personagens procura usar um recurso que tem ganhado projeção nos últimos anos: os cortes rápidos – que visam apresentar o postulante como articulador, intelectual e ativo nas respostas. Ao menos tenta.
Marçal já foi condenado e é também investigado pela justiça por abuso de poder econômico por estimular um campeonato de cortes com alta remuneração antes do período permitido por lei.
A pergunta que faço é: aqueles comentários vistos na página dele e de outros candidatos são verdadeiros? E quanto às visualizações e seguidores?
No Brasil e na maioria dos países do mundo, há uma indústria de venda de comentários, curtidas e seguidores para as principais redes sociais como Youtube, Instagram, Facebook e TikTok.
É possível, por exemplo, por R$ 100,00 comprar 1000 seguidores. Pelo mesmo valor, é possível comprar 100.000 visualizações em um vídeo.
Talvez o que você esteja vendo, nas redes sociais, sejam, na maioria, números fabricados e não construídos só de forma orgânica – termo usado para a audiência real e não comprada.
Faça o teste: veja os vídeos no Youtube e Instagram de sabatinas e repare nos comentários em posts de candidatos. Abra cada um deles. Atente para a quantidade de perfis que não existem, que não apresentam imagens e nem comentários.
No submundo das redes sociais, que conta com perfis fake, crimes dos mais diversos são cometidos porque não há uma regulação de redes sociais séria. O intuito de quem comercializa o “show” é favorecer ou desfavorecer a imagem de um produto, serviço, ou mesmo, de um candidato.
Às vezes aquele comentário que elogia ou ataca, foi feito por mais de 100 contas diferentes, porém, por uma mesma pessoa ou robô.
Em uma pesquisa realizada com 20 países, o Brasil está em último lugar sobre a capacidade dos adultos em diferenciar uma informação falsa ou verdadeira nas redes sociais. E se 80% dos brasileiros só se informam por redes sociais, imaginem o buraco que estamos criando para nossa sociedade.
É a primeira vez que São Paulo vê um postulante que não é morador da cidade chamar oponentes de “cheirador”, “aspirador de pó”, “Jack”, entre outros adjetivos e palavrões.
Nem as emissoras estavam preparadas para essa escalada violenta. Muitas precisaram alterar as regras dos debates – o que não evitou a cadeirada.
Quem for comandar a cidade mais importante do país, seja um candidato condenado por roubar bancos ou um candidato atirador de bancos, vai precisar de educação e respeito aos eleitores, seja nas ruas, na televisão ou nas redes sociais.
*Antonio Gelfusa Junior é professor, publicitário e especialista em comunicação digital.