Confira abaixo o editorial “Perdemos!”
Em um curto espaço de tempo vivenciamos as tragédias mais dolorosas possíveis e inimagináveis.
Ao decorrer dos dias de 2019, que se iniciaram há pouco, vimos sonhos de garotos em se tornar atletas reconhecidos serem levados ao vento após o incêndio nas dependências do Clube de Regatas Flamengo.
Também temos assistido, de maneira consternadora, os sonhos de uma vida inteira de mineiros, como a aquisição de uma casa própria ou mesmo a constituição de uma família, indo literalmente pela lama com o crime ambiental cometido pela Vale.
Pessoas e animais indefesos. Todas vítimas da desenfreada falta de responsabilidade na gestão de uma mineradora, primeiro em Mariana e depois Brumadinho.
Não diferente e de acordo com tudo que tem se apresentado, as fortes chuvas têm castigado Rio de Janeiro e São Paulo. Uma prova viva que por mais que nos esforcemos para jogar lixo no lixo e preservar os recursos naturais – que na maioria das vezes não acontece –, nada pode ser mais forte que as decisões da natureza, principalmente quando ela resolve nos devolver todos os maus tratos que propiciamos a mesma.
Triste ver rios trasbordando – como o Aricanduva e Tietê. Triste ver pessoas perdendo seus bens, seus valores, suas vidas e seu amores.
Ainda no campo da indignação, um vídeo mostrando cenas de agressão por parte de um homem com uma mulher em seu primeiro encontro, com explícita selvageria, também ganhou espaço considerável nas mídias.
Como estamos doentes!
No comportamento com o próximo, no cumprimento das leis, na ética profissional, no respeito à vida e ao próximo, enfim.
Acredito, de fato, que o que ainda indigna a nós, cidadãos, é o fato não perceber uma vontade sincera das autoridades em nos dar respostas.
Ecoar e dar a devida visibilidade ao grito de uma mulher que pede justiça – porque perdeu seu marido ou filhos – deveria ser obrigação nossa, obrigação dos meios de comunicação e obrigação moral da classe política.
Ainda na questão de se dar amplitude aos fatos, houve a perda – dolorosa e irreparável – de um dos poucos, senão o único, jornalista que era capaz de nos envolver com sua articulação eloquente em transmitir notícias com críticas isentas e organizadas.
Como faz falta um profissional como Ricardo Boechat nas manhãs brasileiras de rádio.
Só perdemos!
Pouco nos indignamos com fatos que não deveríamos aceitar nem nos mais divagantes pesadelos.
Que Deus possa olhar por nós e que tudo isso nos sirva, minimamente, de evolução para o desenvolvimento de um país mais organizado e respeitoso.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.