Covas ou Boulos?
Confira abaixo o editorial deste mês
Covas ou Boulos? — O segundo turno em São Paulo será mais curto.
No próximo domingo os paulistanos vão decidir o futuro da administração pública municipal nos próximos 4 anos.
De um lado, Bruno Covas, PSDB, que tenta reeleição.
Do outro, Guilherme Boulos, PSOL, chegando em um segundo turno de eleição pela primeira vez na história.
Bruno Covas carrega o histórico do PSDB de abandono das prefeituras em São Paulo. Foi assim com José Serra e João Dória, ambos do mesmo partido. Deixaram a prefeitura para concorrer ao Governo do Estado de SP, mesmo ambos dando a palavra que não o fariam.
Bruno é neto do ex-prefeito e governador de SP, Mário Covas. Está na vida pública há anos como vereador, deputado e vice-prefeito, assumindo recentemente na saída de Doria. Covas tem o apoio do centro e centro-direita.
Bruno Covas luta contra um câncer e tem procurado mostrar através de suas propagandas que está bem para seguir em frente. No período de seu tratamento a cidade foi comandada pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Eduardo Tuma. Recentemente, por conta da pandemia, atuou no problema de maneira singular e tem usado essa postura de enfrentamento em sua campanha.
O candidato à vice-prefeito na chapa de Covas é Ricardo Nunes, ex-vereador. Carrega liderança na igreja católica e movimento de empresários na Zona Sul da cidade. A insegurança de uma investigação por violência doméstica e desvio de verbas das creches em SP tem pautado os últimos debates e informações sobre seu nome.
Guilherme Boulos tem 20 anos de participação de movimentos populares por moradias. Carrega em seu histórico o apoio à política de esquerda. Esteve junto à Lula por diversas vezes.
Boulos foi candidato à presidente pelo PSOL em 2018 e cresceu como alternativa para à esquerda e centro-esquerda na cidade, uma vez que o terreno ocupado pelo PT e outras frentes similares foram sendo esvaziadas de 2016 para cá.
Professor e filósofo, Boulos mora na periferia e deseja dar voz aos extremos e camadas mais pobres da maior cidade do Brasil. Em sua campanha, tem lutado para desmistificar as ocupações promovidas ao longo de sua trajetória, justificando-as por serem realizadas em terrenos e propriedades inativas e com dívidas ao governo.
A candidata à vice-prefeita na chapa de Guilherme é Luiza Erundina. Primeira prefeita eleita de SP, Erundina carrega histórico parlamentar como deputada e atuação positiva aos professores e movimentos de mutirões e moradias populares.
Ao que tudo indica, os votos de Márcio França devem ser diluídos aos dois, meio a meio. Jilmar Tatto deve transferir os votos ao Boulos, pela identidade política dos partidos. Já os eleitores de Arthur do Val devem depositar a confiança em Covas.
Resta saber como se comportarão os votos de Russomanno.
Se Covas se aproximar da periferia, talvez amplie a vantagem sobre Boulos.
Se Boulos, agora com mais espaço na mídia, explorar os ruídos sobre o vice de Covas e conseguir ganhar a confiança dos eleitores dos extremos da cidade, talvez surpreenda.
Em duas semanas saberemos se os paulistanos vão optar por manter tudo do jeito que está ou apostar em uma nova corrente política na cidade.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.
Ex-vices ganham holofotes
Confira abaixo o editorial do mês
Os vices executivos mais importantes de São Paulo assumiram postos de grande importância.
O vice-governador de São Paulo, Márcio França, que pertence ao PSB, assumiu o lugar de Geraldo Alckimin, PSDB, que renuncia ao cargo para disputar à presidência da república.
Da mesma maneira, Bruno Covas, do PSDB, assumiu a prefeitura de São Paulo no lugar de João Doria, do mesmo partido, que tentará o cargo de governador, no lugar de Geraldo Alckmin.
João Doria, que ficou à frente do cargo de prefeito apenas 15 meses, afirmou durante pouco mais de seu ínfimo 1/4 do mandato cumprido, que de maneira alguma largaria a prefeitura de São Paulo. Na campanha, em entrevistas coletivas da grande imprensa, o político, que não se dizia político, afirmara que seria prefeito até o final do mandato. “Vou prefeitar, fui eleito para isso”, dizia João.
Já Alckmin, que está no seu segundo mandato como governador, foi reeleito em primeiro turno, ao menos cumpriu quase todo o pleito. Com um cenário indefinido de centro e direita, é difícil dizer se há chances de se tornar presidente, uma vez que o tempo de horário eleitoral deve ser compacto pela grande quantidade de pré-candidaturas de alguns partidos que, normalmente, apoiavam o PSDB.
Márcio França, além de vice-governador, foi homem de confiança de Geraldo Alckmin. A situação lembra muito a relação que Alckmin tinha com Mario Covas. Márcio França tem bom diálogo com membros do PSDB e partidos de centro esquerda como o próprio PSB, PC do B e PV. Por estar com a caneta em mãos e manter boa parte da base de partidos que Alckmin deixou, França deve desfrutar de bom tempo de horário eleitoral para construir sua imagem.
Mais análises
João Doria, mesmo com os ruídos graves que deixou ao sair da prefeitura de SP, talvez tenha bom apoio como candidato nas cidades do interior. Isso muito se deve pela liderança que exerce no plano empresarial e pela maneira com a qual se comunica, o que é inegável.
Bruno Covas, com 38 anos, não precisará de eleição e assumirá uma prefeitura com mais de 2 anos e meio de gestão pela frente. O desafio será entregar as promessas não cumpridas por seu antecessor, como organizar os serviços de zeladoria, investir em mobilidade, gerar emprego, enxugar a máquina pública, entre tantos outros desafios.
Já Franca, além de sua candidatura, também precisa dar conta das muitas inaugurações de estações de metrô, hospitais, entre outros. “Coincidentemente”, as obras estão ficando prontas no período de pré-candidatura, o que obrigará o agora atual governador a participar de eventos e ganhar visibilidade.
Na prefeitura, nenhuma disputa. No governo, a máquina em favor do PSB de França enfrentará a máquina privada e do marketing de João Doria.
Independente do desfecho, nunca os vices mais importantes do estado, em tão pouco tempo, ganharam esse protagonismo singular. E a corrida ainda nem começou!
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.