Nossa 3ª Guerra
Em meados de 1945, depois de 4 anos na Índia e 2 anos na Inglaterra como prisioneiro de guerra, meu avô paterno voltou para sua casa, na região de Lazio, Itália.
Irreconhecível, sujo, muitos quilos a menos, surpreendeu minha avó, que pensava que se tratava de algum morador de rua.
Na 2ª Guerra Mundial, homens e mulheres (na maioria homens), precisavam se alistar, combater e participar, sem concordar ou aderir.
Tinha que ir e pronto!
Nos campos de concentração, meu avô e outros prisioneiros viviam em condições precárias.
Insetos e outros pequenos animais eram complemento ou o cardápio de suas refeições.
Ouvi por muito tempo meus familiares contarem isso.
Eu não o conheci pessoalmente, morreu antes de meus pais se casarem.
Retorno hoje para 2020, período em que vivemos uma guerra sem armas, que nos exige um alistamento e comportamento diferente daquilo que rolava no passado.
Não é possível viver de novo o que aconteceu em nossa história, mas podemos refletir.
Não há arma ainda capaz de combater o vírus e por fim nesta quarentena.
A solução criada para evitar sua proliferação é o isolamento social.
Essa nossa 3ª Guerra atinge todas as pessoas, não nações específicas, nem classes sociais.
Não há arma, investimento militar ou dinheiro possível que possa deter o avanço.
Hoje, o inimigo é pequeno, invisível, microscópico.
No passado, quantas pessoas se apresentavam para o combate no “front” e não voltavam mais para seus lares?
Na guerra atual temos uma chance de evitar mais mortes: fazer nossa parte, ficar em casa e enfrentar, com isolamento, a propagação da covid-19.
O enfrentamento do momento é conhecer nossa mente, nossos pensamentos, nossos limites, nossos vilões emocionais, nossas relações com as pessoas e com o mundo.
Ficar em casa também é uma oportunidade única de conhecer melhor seus pares e a si mesmo.
Aproveite este tempo também para arrumar suas coisas (emocionais e físicas), conserte, trabalhe, discuta, desculpe, perdoe, chore, ligue, abrace virtualmente, mas acima de tudo, ame!
Crianças não verem seus avós, e adultos não verem seus pais e amigos, trata-se de um ato de amor.
Por amor as pessoas não precisam deixar suas casas (como se fazia nas guerras do passado), e sim, ficar nelas.
Se no passado, para preservar os avós, crianças e mulheres, os alistados e alistadas tinham que odiar e matar (ou morrer por) um semelhante de uma outra nação, hoje, para resguardar nossos pais e idosos, precisamos, “simplesmente”, nos isolar.
Tempos difíceis virão, mas nem se comparam a dor das complexas travessias emocionais que as guerras do passado promoveram.
Ter paciência e combater a ansiedade são, por enquanto, munições básicas para o momento.
Vamos em frente, até porque tempos difíceis fazem mulheres e homens fortes.
E mulheres e homens fortes farão tempos mais fáceis.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.
A culpa é nossa!
Nós negligenciamos o descarte de lixo na cidade.
Do morador mais humilde ao mais abastado.
O lixo muitas vezes não é reciclado. Alguns até jogados em rios e bueiros.
Apenas 7% do total da cidade é reciclado.
Ocupamos as encostas de morros por falta de políticas inteligentes de moradia e conscientização. Naturalmente por falta de condições e conhecimento também.
Mas também ocupamos as moradias elitizadas em prol do avanço e evolução da vida material. Para qualquer item quebrado ou sem serventia, jogamos tudo fora, seja eletrônico ou entulho, não importa o bagulho!
Poucas vezes procuramos os locais adequados para descarte de itens inservíveis.
Essa atitude pouco reflexiva, não tem classe social, ela é sistêmica.
Reclamamos do PT do Haddad que não entregou as obras contra enchentes – prometidas na gestão anterior. Um fato.
Mas elegemos o Doria do PSDB (que abandonou a prefeitura), e temos uma gestão que não gasta 41% do investimento para obras contra enchentes e também negligencia o assunto.
E continuamos votando nos mesmos.
Por outro lado, chove o total de um mês esperado em poucas hora na cidade.
Mas que cidade e estrutura comportaria, né?
Enfim, o meio ambiente nos alerta faz tempo: à necessidade de reciclagem e reutilização, à necessidade de mais plantação de árvores, à diminuição de poluentes, etc.
Faz tempo que a natureza pede mais empatia.
Mas nós deixamos o debate para depois.
Sempre para depois.
Temos coisas “mais importantes” para resolver.
Até o dia que tudo parar e aí precisaremos refletir.
Ou até um dia que não teremos mais nada.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.
Cerveja, cigarro, propaganda ou governo. Quem é o vilão?
Confira abaixo o editorial “Cerveja, cigarro, propaganda ou governo. Quem é o vilão?”
O senador Styvenson Valentim (Pode-RN) é relator do projeto sobre proibição da propaganda das bebidas alcoólicas. A base do projeto foi o PLC 83/2015 que trouxe a proibição expressa da propaganda de álcool na mídia de massa.
Na proposta há outra iniciativa — a divulgação comercial desses produtos apenas por meio de pôsteres, painéis ou cartazes, dentro dos espaços de merchandising e pontos de venda.
O PLC 83/2015 levou, para essa mesma emenda, as restrições que deverão ajustar a propaganda de bebidas alcoólicas.
Além de não incentivar o consumo “abusivo” — caracterização acrescida pelo relator, essa divulgação não poderá associar o produto, mesmo que indiretamente, à prática desportiva, à condução de veículos, à sexualidade e ao sucesso; sem dirigir ou incluir crianças ou adolescentes; nem anunciar propriedades medicinais, relaxantes ou estimulantes.
Se aprovado, necessitará de 120 dias para ser colocado em prática.
Importante lembrar que o cigarro também teve sua propaganda proibida e regulada em meios de massa. Isso aconteceu em dezembro de 2000, com uma lei do sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sem dúvidas trata-se de um assunto polêmico.
Até porque o produto cigarro é nocivo à saúde.
Todos os indicadores apontam gravidade e riscos dos mais diversos para as pessoas que estão dependentes deste produto. São mais de 4 mil substâncias químicas.
O cigarro mata cerca de 7 milhões de pessoas por ano no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde. 900 mil pessoas morrem por inalar estes gases tóxicos.
Com 20 milhões de fumantes no Brasil, foi percebida uma queda de 36% de consumo do cigarro na última década e muito se deve a nova regulação.
No que tange à propaganda, na época, tínhamos um mercado pujante em exploração. Outdoor, patrocínios de carros de fórmula 1, televisão, rádio e tantos outros meios com marcas de cigarros das mais diversas.
Já em relação ao uso abusivo de álcool, o mesmo mata cerca de 3,5 milhões de pessoas por ano segundo a OMS.
Globalmente, estima-se que 237 milhões de homens e 46 milhões de mulheres sofram de problemas relacionados ao consumo de álcool com a maior prevalência na Europa (14,8% e 3,5%, respectivamente) e na Região das Américas (11,5% e 5,1%, respectivamente).
Problemas estes ligados à violência do trânsito, agressões, brigas e acidentes dos mais diversos.
Toda redução é positiva, mas também é curiosa.
O governo entra na jogada, permite a venda do produto, contanto que o produto tenha descrições em seus rótulos como a dependência, apresentação obrigatória dos possíveis cânceres a serem causados, impotência e outros malefícios.
O contraponto é que está em nossa Constituição Federal, claramente, quando se aborda sobre os produtos nocivos à saúde, que os mesmos não podem ser comercializados.
Têm-se um problema tão grave que envolve saúde pública, porque então não discutimos parar de vender um produto que causa tanto mal à sociedade?
Talvez a resposta esteja exatamente no fato de que a indústria de cigarros e do álcool ainda recolhem um importante montante de impostos para a máquina pública.
Regular a publicidade se necessário não é problema algum.
O problema está na hipocrisia do governo que, se pudesse, o regularíamos.
Antonio Gelfusa Junior é publicitário e editor-chefe das publicações impressas e online do Grupo Raiz.