Don´t cry for me, Argentina
Uma das músicas mais emblemáticas da história, “Não chores por mim, Argentina”, faz parte do albúm Evita, escrita pelo músico e compositor Andrew Lloyd Webbe em 1976.
O albúm virou um musical mundial que conta a história de Evita Perón – a dama da esperança do povo Argentino – que ficou eternizada em vozes como Madonna, Sarah Brightman, Olivia Newton-John, entre muitas outras.
Falando em “choro”, na Argentina, inclusive, o presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad, estiveram presentes, recentemente, em uma série de compromissos. Em um dado momento foi abordado a possível criação de uma moeda entre Brasil e o país.
Sem ao menos saberem os detalhes, bolsonaristas radicais e fanáticos prontamente fizeram críticas e promoveram aquela natural enxurrada de reprovação regada a muita fakenews.
Já os Lulistas radicais e fanáticos, sem ao menos entenderem do que se tratava a amplitude do tema, saíram em defesa da tal moeda e de Lula, obviamente.
O curioso do fato é que em março de 2019, há 4 anos, o então presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Fazenda Paulo Guedes, também visitaram a Argentina e discorreram sobre a tal moeda.
Na época, Bolsonaro e Paulo Guedes defenderam com veemência a ideia.
O curioso é que na ocasião da viagem, os lulistas fanáticos diziam que se tratava de um absurdo, que não fazia sentido algum uma moeda única e que a economia da Argentina estava frágil.
Ao contrário dos lulistas, os bolsonaristas fanáticos diziam que era o tal do livre comércio e que o então presidente estava criando boas relações no exterior. Diziam que o país estava recuperando a sua devida importância no cenário internacional, etc.
Discursos idênticos, não?
Tanto da situação quanto da oposição.
Esse é só mais um diagnóstico constatado da tal indignação seletiva.
Como funciona: se uma ideia é de alguém que eu gosto, de alguém que defendo ou de alguém que sou “cegamente apaixonado”, essa ideia vale e está aprovada.
Do contrário, não vale!
O fanatismo impede até um estudo mais aprimorado e abertura mental para o conhecimento.
Além da maioria dos que criticaram não terem uma formação mínima em economia, esse povo nem foi buscar mais dados sobre se a moeda valeria na América Latina inteira, que as moedas Real e Peso continuariam existindo, que demoraria até 5 anos para a total implementação, etc.
Parte considerável da sociedade rasa em que vivemos não quer se informar adequadamente sobre algum assunto.
E mesmo assim, querem o título e o reconhecimento como se fossem especialistas em economia e política.
Contato com radicais e extremistas se evita – neste caso, sem trocadilho com a Evita, a Perón Argentina.
* Antonio Gelfusa Junior é publicitário e professor do SEBRAE.
Foto: Divulgação.
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Bolsonaro elegeu Lula
Em 2018 a vontade das urnas brasileiras elegeu Bolsonaro para presidente da república.
Ele jamais havia sido eleito para um cargo do executivo em sua história.
Jair Bolsonaro foi vereador e deputado federal. Trajetória, inclusive, parecida com a de Lula, que antes de se tornar presidente em 2002, tinha apenas uma única passagem na câmara federal e também não havia ocupado qualquer cargo no poder executivo.
Bolsonaro, com sua força nas redes sociais e discursos antagônicos somados às frustrações promovidas pelo PT no período de 2002 a 2016, recebeu – no colo – a eleição de 2018.
O prenúncio da polarização entre esquerda e direita já dava suas caras na eleição de 2014 com o embate de Dilma Rousseff e Aécio Neves.
O calor da mídia, o espetáculo promovido pela lava-jato e a prisão de Lula – ao longo dos anos – ajudaram Bolsonaro a ter a liderança de ponta a ponta daquela eleição.
Petrolão, mensalão, loteamento de cargos ao centrão e aparelhamento de estatais foram um dos motivos do descrédito do PT em suas gestões.
O último governo do PT, por exemplo, foi desastroso. Terminou com o impeachment de Dilma Rousseff. Não por corrupção, mas por pura inabilidade política.
A frustração com o PT no país abriu espaço para o crescimento de uma corrente oposta: o bolsonarismo.
Com personalidade forte, Bolsonaro foi eleito bem ao seu estilo: ríspido, estúpido e com muitos discursos altamente conservadores.
Porém, em pouco tempo, o governo de Jair Bolsonaro, de direita, se mostrava parecido com os últimos governos de esquerda.
Logo a gestão atual se envolveu em escândalos, se alinhou ao centrão, loteou cargos para a base aliada e, rapidamente, estava nos braços de símbolos da corrupção brasileira como Valdemar da Costa Neto, Roberto Jefferson, Fernando Collor de Mello e Eduardo Cunha – curiosamente parceiros do PT e de Lula nos anos anteriores.
Mas algo foi vital na derrocada do atual governo.
Sem dúvidas o tendão de aquiles foi a covid-19.
Além de diminuir e negar a pandemia, o presidente receitou – como se médico fosse – remédio sem eficácia, atrasou propositalmente a aquisição de vacinas e deixou à frente da pasta da saúde alguém sem qualquer conhecimento técnico.
Sua rejeição está totalmente ligada à falta de empatia pelos mortos e pelo execrável sadismo de imitar pessoas com falta de ar.
Qualquer povo deseja ouvir de um chefe de estado palavras de conforto, ainda mais em uma situação atípica sem precedentes.
Bolsonaro fez totalmente o contrário do que é recomendado por qualquer assessor político e analista de comunicação – por mais “meia boca” que fosse.
Resultado: se tornou o primeiro presidente a não conseguir uma reeleição após a redemocratização.
Não que uma reeleição seja algo bom. Muito pelo contrário.
Democracia saudável é aquela que alterna poder.
Mas o recado foi dado nas urnas, mais uma vez.
Erros graves na condução política entregam – de bandeja – uma eleição ao adversário, por mais rejeitado que ele também seja.